Ações contra o custo Brasil avançam com menor peso ideológico, dizem especialistas
- Seminário promovido pela Folha, com apoio da CNI, identifica menos interferência ideológica na economia
- Investimento em infraestrutura é questão importante, mas não única, para atacar o custo Brasil
Especialistas reunidos na sexta-feira (5) em seminário promovido pela Folha em parceria com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) relataram avanços na tentativa de atacar questões ligadas ao custo Brasil, capaz de tirar da economia brasileira R$ 1,7 trilhão por ano, cerca de 20% do PIB.
Um dos pontos destacados é o menor peso de questões ideológicas sobre a economia.
O advogado Paulo Henrique Dantas, especialista em infraestrutura e direito público, deu como exemplo concessões e PPPs (parcerias público-privadas). Essas operações, afirmou, já são feitas nos níveis federal, estadual e municipal, independentemente de questões partidárias, sem interferência ideológica.
Luciana Costa, diretora de Infraestrutura e Transição Energética e Mudança Climática do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), disse que houve melhora também em relação à segurança jurídica, um dos componentes do custo Brasil, com evolução de diferentes marcos regulatórios.
Jefferson Gomes, diretor de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação da CNI, que também fez a abertura do seminário, destacou que ainda há muito a fazer.
“Reduzir o custo Brasil não é apenas uma pauta contábil. Não é simplesmente chamar o contador para reduzir o assunto. É uma pauta de sociedade. E essa é a única forma que a gente tem de modificar o nosso processo de competitividade.”
Para o diretor da CNI, viabilizar um bom uso da tecnologia é fator importante para tornar o país mais competitivo. A questão se conecta com a formação profissional e, ainda antes disso, com o que chamou de letramento digital.
Gomes afirmou que estudos com a participação da CNI demonstraram que 40% das empresas de médio e pequeno porte do Brasil já fazem uso da inteligência artificial (IA), mas a forma como utilizam as ferramentas não é a ideal.
“Geralmente não pagam para usar esses agentes de IA ou pagam muito barato. Quando você não paga para usar um agente de IA, você é o produto [com os dados das empresas sendo capturados e negociados, por exemplo]”.
O letramento digital e a falta de educação formal, disse o diretor da CNI, também estão conectadas com outros aspectos-chave da composição do custo Brasil: a polarização ideológica, mesmo com seu menor impacto na economia, e a falta de mão de obra qualificada.
“A polarização é um problema grande porque as pessoas estão mal formadas. Portanto, se você quer polarizar com ferramentas digitais e os robôs, é muito mais simples”, disse.
O custo Brasil, visto como um entrave ao crescimento econômico, é na realidade um amálgama de questões que atravessam aspectos e disciplinas com maior ou menor diálogo umas com as outras, mas que, inevitavelmente, se somam e precisam ser atacadas simultaneamente.
Deficiências na infraestrutura e entraves tributários se juntam à formação de mão de obra, letramento digital e até polarização política para fazer do Brasil o último colocado em uma variedade de aspectos que encarece toda a cadeia produtiva e econômica, além de dificultar a competitividade do país, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
O advogado Paulo Henrique Dantas disse que, assim como o custo Brasil em si, a questão da infraestrutura também é multifacetada, englobando pontos como as malhas de transporte, mas não parando nesse aspecto.
Dantas entende que o investimento em infraestrutura, além de ser importante individualmente, é também um hub acelerador de soluções para outros aspectos que compõem o custo Brasil. Um exemplo, afirmou, é o impacto do crime organizado na cadeia econômico-produtiva.
“Com a melhora da infraestrutura, você consegue também combater os caminhos que o crime organizado tem utilizado. Na medida que você melhora as rodovias, você também tem um maior controle, por exemplo”, disse.
Outro ponto citado por Dantas foi o aumento do controle sobre cargas transportadas por navios, por exemplo no porto de Santos (SP), com contêineres que entram e saem do Brasil submetidos a inspeção por raio-X.
“É um controle bastante intenso, muito forte. E na medida que você tem mais investimentos nesse setor, melhor é o controle.”
Luciana Costa, do BNDES, ressaltou que o governo tem enxergado a questão criminal como preponderante. A executiva apontou recentes ações de desmantelamento de atividades econômicas de fachada, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, como exemplos positivos.
Na visão dela, o Brasil está vivendo um “quadriênio de ouro” no que diz respeito ao investimento em infraestrutura.
Além do painel “Construir Infraestrutura”, o Seminário Custo Brasil teve uma mesa sobre burocracia e legislação. A repórter especial da Folha Joana Cunha fez a mediação do evento.
Ação contra custo Brasil avança com menor peso ideológico – 08/12/2025 – Seminários Folha – Folha