Ágio de 267.000%, poucos estrangeiros e lance solitário: saiba como foi a maratona de leilões em SP
Com o leilão dos serviços de loteria no estado de São Paulo, realizado nesta sexta-feira, a maratona de concessões realizada na B3, esta semana, contratou investimentos de R$ 23 bilhões nos próximos anos. Os leilões foram marcados por baixa participação de estrangeiros (apenas no de loterias houve interesse de um grupo italiano), e disputas mais acirradas nas concessões de rodovias. Houve ágio de até 267.000%.
A rodada de leilões também teve como novidade o interesse de gestoras financeiras, como a Kinea, que em consórcios fez lances por ativos de infraestrutura, marcando sua entrada nas concessões de rodovias e escolas. Além do governo paulista, o governo do Piauí e o governo federal ofereceram ativos. O serviço de saneamento do Piauí foi o de menor competição: teve uma única proposta, da Aegea, que já atua no estado.
Para especialistas, o resultado da semana de leilões confirma o apetite dos investidores pelos setores de rodovias e de saneamento (mesmo com apenas uma proposta), onde os governos têm conseguido desenvolver um cardápio interessante de projetos.
— O setor de concessão de rodovias vem de um mercado concentrado e com um histórico de baixa competitividade nas licitações. Os últimos leilões já refletem o ingresso de novos players, inclusive de grupos finaceiros. O aperfeiçoamento regulatório e a modelagem dos projetos têm contribuído para trazer maior competitvidade nas licitações — diz Fernando Vernalha, especialista em contratos públicos e sócio do escritório Vernalha Pereira.
Para ele, o setor de saneamento também tem se mostrado aquecido nos últimos anos, com um histórico de leilões competitivos, impulsionados desde o Novo Marco Legal, em 2020. O certame dos serviços de água e esgoto do Piauí, nesta semana, não teve competição, dadas as peculiaridades do projeto, que inclui áreas rurais. Mas, para Vernalha, trata-se de um caso isolado.
O advogado avalia que, apesar do interesse de investidores, é preciso avançar com medidas regulatórias que permitam melhorar a segurança do investidor de longo prazo.
Para Paulo Henrique Dantas, especializado em infraestrutura, sócio do escritório Castro Barros Advogados, disse que o resultado da semana de leilões deu um sinal positivo para o mercado, especialmente no setor rodoviário. Ele diz que os projetos ganharam maturidade, atraindo novos entrantes e trazendo mais disputa nos leilões.
— Os grandes grupos escolhem seus projetos com maior critério. Isso acaba abrindo a possibilidade de novas empresas entrarem nos ativos que não estão no radar das empresas que já estão consolidadas em alguns setores — afirmou.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, comemorou os três leilões feitos por São Paulo e lembrou do ambicioso plano de concessões do estado, através do Programa de Parcerias de Investimentos do Estado de São Paulo (PPI-SP). O objetivo é atrair R$ 500 bilhões em capital privado com concessões.
— Parece ambicioso, mas já temos R$ 340 bilhões contratados e vamos chegar ao meio trilhão — afirmou.
O que foi leiloado
— Desse meio trilhão em investimento, já contratamos R$ 340 bilhões. E vamos alcançar esse objetivo trazendo empresas novas para investir — disse Freitas.
A maratona de leilões começou com as 17 escolas paulistas, na terça-feira passada, vencida pelo Consórcio Novas Escolas Oeste SP, liderado pela gestora financeira Kinea em parceria com a Engefor. O consórcio ofereceu o maior desconto no valor que o governo pagará por mês às empresas para construção e gestão das escolas: 21,43% do teto estabelecido.
Assim, o contrato, que é uma Parceria Público Privada (PPP) foi firmado no valor de R$ 11,9 milhões mensais. O investimento é de R$ 1,05 bilhão e outros quatro interessados apresentaram propostas.
Ontem, a Justiça paulista acatou o pedido do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e suspendeu as parcerias público-privadas (PPPs) de novas escolas em São Paulo. Mas a Justiça acolheu recurso do governo e derrubou a liminar que supensia o leilão. Na próxima segunda-feira, está previsto um novo leilão de 16 escolas em São Paulo, também com investimento de R$ 1 bilhão.
Saneamento do Piauí
Na quarta, a Aegea, única a apresentar propostas, venceu o leilão de concessão dos serviços de água e esgoto para as 224 cidades do Piauí. A empresa ofereceu desconto de 1% sobre a tarifa a ser cobrada pelo serviço e o valor mínimo de outorga, de R$ 1 bilhão. O investimento previsto é de R$ 8,6 bilhões e o prazo de concessão de 35 anos.
Rota Sorocabana
Também na quarta, a CCR Rodovias confirmou o favoritismo e venceu o leilão de concessão da Rota Sorocabana, com 460 quilômetros de extensão e prazo de 30 anos de concessão. No lote, estavam incluídos trechos de estradas que já são admistrados pela CCR, através da concessionária da ViaOeste, mas cuja concessão está chegando ao fim. Além da CCR, entregaram propostas a Ecorodovias, Pátria Investimentos e Grupo EPR. O valor mínimo da outorga era de R$ 597,5 mil, e a CCR ofereceu R$ 1,601 bilhão, ágio de 267.835,55%, e valor superior apenas em R$ 1 milhão à oferta da Ecorodovias. O investimento previsto é de R$ 8,8 bilhões.
Rota do Zebu
A Kinea em parceria com construtoras da Way Brasil, através do consórcio Rotas do Brasil, venceu o banco BTG Pactual no leilão de concessão da BR-262/MG conhecida como Rota do Zebu. São 439 quilômetros no trecho que vai de Betim a Uberaba, em Minas Gerais. O leilão foi realizado pelo Ministério dos Transportes. A empresa ofereceu maior desconto na tarifa de pedágio, de 15,30%, critério para escolher o vencedor. São R$ 4,4 bilhões em investimentos e o prazo de concessão de 30 anos. O leilão aconteceu na quinta-feira.
Loterias em SP
O consórcio “Aposta Vencedora”, liderado pela empresa SAV Participações, composta por investidores brasileiros, venceu a concessão de loterias em São Paulo, ao oferecer o maior lance de outorga fixa de R$ 600.000.000,00, ágio de 130,15% sobre o valor mínimo de outorga. O consórcio vencedor derrotou o Consórcio SP Loterias, liderado pela IGT Global Services Limited, grupo italiano com ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, que já opera a loteria mineira.