Próximo passo é ter bases no mar
ABEEólica estima que crescimento anual da capacidade instalada a partir de 2026 pode sair dos atuais 3 GW ao ano para algo próximo a 5 GW por ano
O ritmo de crescimento do setor de energia eólica no país deve se acelerar nos próximos anos, num cenário descrito como “excepcional” pela presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum. “A tendéncia é de que o mundo e o Brasil continuem investindo fortemente em energia eólica, numa perspectiva de crescimento para curto, médio e longo prazos.” A expectativa está amarrada a projetos em curso ou anunciados e à possibilidade de entrada do país na produção de hidrogénio verde, antevista para 2026 pela associação, num arranjo que envolverá energias renováveis. As fontes eólicas e solar surgem como os atores centrais no processo.
O país deve continuar a agregar uma capacidade adicional próxima de 3 GW anualmente ao longo da próxima década. “Com a entrada do hidrogénio, o cenário deve melhorar mais, porque o sistema deverá crescer algo como 5 GW por ano em capacidade adicional,” Sócio do escritório Castro Barros Advogados, Paulo Henrique Spirandeli Dantas antevê um potencial para crescimento do setor de renováveis, “acoplado especialmente à produção de hidrogênio verde”. Para ele, o Brasil pode ser um “grande produtor global nesta área”, mas alerta que esta é “uma janela de oportunidade que tende a se fechar” diante do interesse crescente de economias desenvolvidas, sobretudo na Europa, onde a Alemanha tem olhado com atenção projetos no setor.
As estimativas da ABEEólica não contemplam as possibilidades que se abrem com o início da geração offshore. Os primeiros leilões de cessão de áreas no mar devem ocorrer em 2023, na expectativa da associação, que antevê a contratação de energia para depois de 2025. “Até 2028 ou 2029 teremos em operação no Brasil os primeiros parques offshore”, diz Gannoum. Em agosto deste ano, a diretoria de licenciamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) registrava 11.571 processos de licenciamento em tramitação no órgão, com capacidade para 169.441 megawatts (MW) ou quase oito vezes a potência do setor eólico instalada até 2021.
Até o fim de setembro deste ano, os 827 parques em operação em 12 Estados registravam potência equivalente a 22,6 GW, além de 1,7 GW em fase de testes. A associação espera que mais 600 MW entrem em operação no último trimestre, elevando o a capacidade nominal para 23,2 GW.
Até 2027, as previsões da associação sugerem um aumento de quase 70% na potência instalada frente a 2022, avançando para 39,4 GW, com aportes de R$ 105,3 bilhões. Em cinco anos, o setor terá uma expansão equivalente ao crescimento obtido na década passada, quando foram investidos R$ 110,5 bilhões, o que levou a geração eólica a responder por 12,1% da matriz energética, tornando-se a segunda fonte do setor elétrico.
Incluída de contrabando na Lei 14,182/2022, que determinou a privatização da Eletrobras, a exigência de contratação de 8 GW de termelétricas a gás nos próximos anos deverá penalizar a produção de energia renovável, avalia Dantas. A medida, na sua avaliação, cria um mercado de reserva para as termelétricas e a entrada dessa energia poderá criar um congestionamento no sistema, impedindo a entrada de energia de fontes renováveis. Na medida em que há uma exigência legal, diz ele, a pergunta que se coloca é de onde virá o dinheiro para implantar toda a infraestrutura necessária.
Num projeto ambicioso, a Casa dos Ventos quer se tornar nos próximos anos a principal plataforma de soluções renováveis nos setores de energia e de hidrogênio verde, atuando ainda como provedora de soluções focadas na transição energética em curso aqui dentro e Iá fora, nas palavras de Lucas Azaripe, diretor de novos negócios da empresa. A capacidade instalada deverá crescer seis vezes até 2025, para cerca 4 GW, saindo dos atuais 655,2 MW distribuídos entre o complexo eólico de Folha Larga do Sul, na Bahia, e na primeira etapa do complexo Rio do Vento, no Rio Grande do Norte.
A expansão contempla, na geração eólica, a entrada em operação plena da segunda fase em Rio do Vento ao longo do segundo semestre de 2023, com 534 MW de capacidade; o início da operação, na Bahia, do complexo Babilônia Sul ainda neste ano, agregando mais 360 MW; e a entrada em funcionamento do complexo Umari ao longo do primeiro semestre de 2024, no Rio Grande do Norte, com 202,5 MW de potência instalada. Ao longo deste ano, a empresa vem estruturando dois outros projetos de fonte eólica, previstos para o Rio Grande do Norte e para a Bahia, somando 1,2 mil MW no total.
Como parte de seu projeto de “hibridizar” a geração elétrica, diz Araripe, a Casa dos Ventos estuda a localização de um projeto com potência estimada em 400 MW, a ser instalado em São Paulo ou Goiás, e tem planos de construir mais uma planta solar híbrida com capacidade prevista em 600 MW. A ideia é otimizar o investimento, utilizar a rede de transmissão já implantada para atender aos complexos eólicos nos momentos de ociosidade do sistema e assegurar mais eficiência e estabilidade na geração. O investimento até 2025 deverá ser de R$ 20 bilhões, dos quais em torno de 25% com recursos próprios.
Em março deste ano, a Shell Brasil deu entrada no Ibama com pedidos de licenciamento ambiental para seis projetos de geração de energia eólica offshore. As áreas requeridas têm potencial estimado em 17 GW, incluindo três projetos no Nordeste (Piauí, Ceara e Rio Grande do Norte), dois projetos no Sudeste (Espírito Santo e Rio de Janeiro) e um no Rio Grande do Sul. “Se tudo correr dentro do previsto, esperamos que os projetos de eólica offshore entrem em operação no início da próxima década”, avalia a multinacional.