Direito Público, Infraestrutura e Regulatório
Valor - Setorial Infraestrutura e Logística

Apetite para novos projetos

Investidores têm interesse no setor, que poderá triplicar a capacidade instalada e elevar a potência da geração para mais de 32,4 GW nos próximos anos

Há apenas cinco anos, o mercado de energia solar no Brasil era embrionário, com uma ca­pacidade instalada de 93 megawatts (MW) na geração distribuída e zero no mercado centralizado. O primeiro leilão de venda de energia de reserva havia sido realizado em 2014, relembra o presidente da Associa­ção Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, e os primeiros projetos começaram a surgir a partir de 2017, quando grandes usinas entra­ram em operação. A geração centralizada registrava, então, 968 MW de potência, respondendo por 0,6% da matriz elétrica.

A geração distribuída saiu de 93 para 192 MW de capacidade na passagem de 2016 para 2017 e, nos anos seguintes, multiplicou a potência instalada em quase 35,6 vezes, para 7.018 MW no começo de outubro. “Este deverá ser o segundo ano de liderança da distribuída, que desbancou a geração centralizada desde 2020”, diz Sauaia. Ainda em 2021, a capacidade de produção de energia solar em grandes plantas, que operam no mercado centralizado, chegou a 3.841 MW, crescendo quatro vezes desde 2017. Mas sua participação no total do setor fotovoltaico encolheu de 83% para 35%, com a distribuída assumindo 65%, quando era de apenas 17% em 2017.

Em conjunto, as duas categorias assumiram uma capacidade instalada de 10.859 MW, diante de 1.160 MW em 2017, num salto de 836%. Esta capacidade de­verá triplicar nos próximos anos, passando para 32.415 MW ao se considerar a potência outorgada para o setor. Para colocar de pé todas as unidades com construção iniciada ou em fase de projeto, serão exigidos R$ 123,64 bilhões, mais do que o dobro do total investido entre 2012 e setembro deste ano, ao redor de R$ 54 bilhões. O Sudeste concentra 37,3% da geração distribuída, seguido pelo Sul, com 21,1%, e pelo Nordeste, com 19%.

A redução nos custos tem sido um fator de peso a atrair investidores e interessados em instalar placas fotovoltaicas. Medido em dólares por megawatt/hora, entre 2013 e o mais recente leilão de energia nova A-5, realizado no fim de setembro, o custo caiu 70%, saindo de US$ 103 para US$ 30,90 – algo em torno de R$166,90 por MWh, a segunda mais barata, atrás da energia solar, que registrou preço médio de R$ 160,40.

As decisões envolvendo a contratação de energia nova tomam como base declarações das distribuidoras indicando qual o volume de energia será necessário para atender o mercado nos próximos anos. As de­clarações consideram as garantias físicas de energia firmadas em contratos de longo prazo com as gerado­ras e homologadas pelos órgãos reguladores. Sauaia defende a revisão das garantias físicas, que hoje não representam a capacidade ideal de produção de energia do sistema, como “parte fundamental para equilibrar o setor e abrir espaço para novas contratações”. A medida poderia reduzir os preços finais da energia, diz Sauaia, lembrando que a importação de energia do Uruguai e da Argentina e a contratação de termelétricas impli­cam custos entre nove e até 13 vezes mais altos do que os da energia solar.

Um avanço na direção defendida pela Absolar, con­sidera Paulo Henrique Spirandeli Dantas, sócio do es­critório Castro Barros Advogados, foi a aprovação em agosto pela Câmara do Projeto de Lei 5.829/2019, que institui o marco legal da geração distribuída, que per­mite que consumidores produzam a própria energia a partir de fontes renováveis. A proposta encontra-se em tramitação no Senado. Em conjunto com o Projeto de Lei 414/2021, que regula o acesso ao mercado livre de energia, aprovado pela Casa e agora na Câmara, os dois projetos tendem a criar as condições para uma “ex­pansão rápida do setor de energia solar, criando um mercado robusto”.

A Sun Mobi elaborou um modelo diferenciado de negócios, baseado na venda de energia por assinatura. Nascida em Sorocaba (SP), diz Alexandre Bueno, um dos sócios da empresa, a Sun Mobi investiu R$ 1,6 milhão em 2017 para construir sua primeira planta solar, com capacidade para 400 quilowatts/pico. “Percebemos que havia uma obsolescência no relacionamento entre em­presas e clientes no setor e pensamos num pacote que permite ao cliente custos mais baixos e a possibilidade de gerenciar seu consumo de forma mais efetiva.”

Em 2020, a empresa iniciou a operação de sua planta de geração fotovoltaica em Porto Feliz (SP), com capa­cidade para 1 MW/pico, num investimento de R$ 4 mi­lhões. Hoje, com 120 clientes, a maioria no segmento residencial, a Sun Mobi pretende duplicar sua base de clientes até janeiro de 2022, quando deverá concluir a expansão da planta de Porto Feliz para 5 MW/pico, investindo mais R$ 16 milhões.

O aquecimento do mercado alterou a estratégia da Elgin para o setor fotovoltaico, levando-a a transformar a subdivisão criada em 2017 para unidade exclusiva para essa energia em junho de 2020.0 grupo está inves­tindo neste ano R$ 140 milhões em sua nova unidade, segundo Glauco Santos, diretor da divisão de energia solar. Os recursos estão sendo alocados na sua estrutu­ração, ampliação de estoques, logística e transformação digital, incluindo a implantação de softwares de gestão e outras ferramentas. A unidade havia ampliado seu faturamento em 140% em 2020 e espera crescer mais 150% neste ano.

Com 28 usinas fotovoltaicas, uma dezena de hidrelé­tricas e de térmicas a biogás, a participação de energias renováveis na matriz elétrica da 11M alcançou 77,8% no segundo trimestre deste ano, diz o vice-presidente de recursos corporativos, Bruno Gentil. Os custos compe­titivos e o comprometimento com as melhores práticas de ESG (governança ambiental, social e corporativa) levaram a operadora a investir em energia limpa e ge­ração distribuída desde 2017. “Até 2022, pretendemos chegar a 60 usinas, tendo uma geração mensal de 38 GWh, o suficiente para abastecer uma cidade com 150 mil habitantes e atender pelo menos 90% do consumo total de energia da empresa.”