Direito Público, Infraestrutura e Regulatório
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Contra fantasma de devoluções, vencedora de Congonhas terá de otimizar área comercial

Por Juliana Estigarríbia*

O mercado ainda tenta entender o lance bilionário da espanhola Aena pelo bloco de Congonhas na 7ª rodada de concessão de aeroportos, em meio à expectativa de baixa competição que já se desenhava há algum tempo no setor. Apesar do valioso ativo conquistado, o grupo terá desafios para expandir um terminal com limitações importantes de espaço. Adicionalmente, terá que equilibrar o aeroporto paulista com outros dez deficitários espalhados pelo País, sob o risco de repetir capítulos problemáticos recentes do setor: os pedidos de devolução das concessões de Galeão (RJ), Viracopos (SP) e São Gonçalo do Amarante (RN).

Para fontes ouvidas pelo Broadcast, a proposta de R$ 2,45 bilhões da Aena pelo bloco – um ágio de 231% – surpreendeu. “Não faz o menor sentido, especialmente porque os três primeiros colocados estariam habilitados para uma eventual disputa em viva-voz”, afirma uma fonte do setor.

De acordo com um executivo que assessorou empresas que estudaram o certame, “a conta não fechava”. “O lance da Aena foi inexplicável”, afirma. A fonte avalia ainda que a espanhola teve uma “leitura de mercado pobre”, com decisão sobre o tamanho do lance tomada há muito tempo, desconsiderando as atuais variáveis do mercado. “Além disso, a empresa tem pouco incentivo para correr risco, já que seu controlador é o governo espanhol. Se eles fossem um pouco mais responsáveis, colocariam o risco Brasil na conta”, alerta.

Na visão de um executivo do setor aeroportuário, para além do cenário de inflação, juros elevados e incertezas políticas, problemas na regulação contribuíram para afastar operadores e investidores estrangeiros do leilão e estariam diretamente relacionados à postura do Ministério da Infraestrutura e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) durante a crise da covid-19. O jogo duro do poder concedente para reequilibrar contratos diante do tombo na demanda – corrente e futura – de todo o setor de aviação está no topo das preocupações.

A demora em resolver problemas com três concessões antigas – Viracopos, São Gonçalo do Amarante e Galeão – também atrapalhou. Isso tudo em um cenário de imagem internacional arranhada do Brasil – seja pelo desmatamento da Amazônia, seja por causa da política externa, afirma a fonte. Conforme o executivo, também há sinais de que as estimativas de demanda não contemplaram totalmente os efeitos da pandemia e de que os investimentos em obras podem estar subestimados.

Novo perfil

Uma fonte ligada às empresas do setor explica que, para fechar a conta, a Aena terá que extrair o máximo de valor possível de sua nova concessão considerando a limitação de espaço para expansão de pista em Congonhas. Por outro lado, há a expectativa de uma melhor exploração de espaços comerciais e de publicidade, atraindo lojas com maior potencial de receita.

Para especialistas ouvidos pelo Broadcast, as concessões de aeroportos no País resultam naturalmente em uma mudança no padrão das lojas, para tíquetes médios mais altos, como uma das formas de pagar os investimentos em melhorias. Segundo o sócio do Castro Barros Advogados, Paulo Dantas, a negociação muda quando entra um concessionário no aeroporto. “Quando o terminal não é mais estatal, os contratos com lojistas ficam mais caros. Consequentemente, também vai ficar mais caro para o usuário”, pondera.

No primeiro semestre de 2022, pouco mais de 39% da geração de caixa (Ebitda) do grupo Aena veio da exploração comercial e cerca de 14% da divisão internacional. No período, o grupo reportou um lucro líquido de 163 milhões de euros, revertendo prejuízo de 346 milhões de euros no mesmo intervalo de 2021.

Para o economista e associado da L6 Capital Partners, Alan Rockert, a Aena era muito regionalizada e, agora, passa a ter um protagonismo maior no setor globalmente. “A concessão da 7ª rodada é um divisor de águas para o grupo. Olhando para sua estratégia global, faz sentido a conquista do leilão, a empresa se consolida como um dos players mais importantes do setor”, avalia.

Dantas lembra que o grupo espanhol – que agora detém a concessão de 17 aeroportos no Brasil – terá mais escala para negociar não só na exploração das áreas comerciais, mas também com companhias aéreas. “Congonhas é um hub natural, deve haver um aumento do número de destinos partindo da capital. O grupo também pode encontrar sinergias entre os aeroportos arrematados.”

*Com colaboração de Matheus Piovesana e Vinicius Neder

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