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Especial: Grupos estrangeiros devem ficar de fora do leilão de aeroportos regionais de SP

O governo paulista está confiante no sucesso do leilão de 22 aeroportos regionais, programado para o próximo mês. Segundo o secretário estadual de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto, investidores já fizeram visitas aos sítios aeroportuários e a expectativa é de um “grande leilão”. Grupos internacionais devem ficar de fora, com o interesse mais restrito a empresas nacionais e de diferentes áreas de atuação.

“O turismo regional vai ser o grande ponto de retomada do setor aéreo. Temos bons grupos privados nacionais interessados, se organizando com operadores para o leilão”, afirmou Machado ao Broadcast.

O certame foi dividido em dois lotes e está marcado para o próximo dia 15 de julho, com estimativa de atração de investimentos da ordem de R$ 450 milhões. O contrato de concessão será de 30 anos. Juntos, os terminais movimentam atualmente 2,4 milhões de passageiros por ano, considerando embarques e desembarques e, dos 22 aeroportos, seis já contam com serviços de aviação comercial regular.

Conforme apurou o Broadcast, grandes grupos aeroportuários internacionais que deram lances na 6ª rodada do governo federal não demonstraram interesse, até o momento, no leilão paulista. As empresas estrangeiras, segundo fontes, estão reunindo fôlego para a 7ª rodada federal, prevista para 2022, que abrangerá as estrelas do setor: os aeroportos de Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).

“É possível que haja interesse de última hora, mas até o momento isso não aconteceu”, diz uma fonte ligada a um conglomerado europeu.

Segundo o advogado especializado em infraestrutura e sócio do Castro Barros AdvogadosPaulo Dantas, é possível que empresas de táxi aéreo e até de outros modais venham a dar lance no leilão paulista.

“O perfil do investidor deve ser diferente do que temos visto nas concessões federais. O potencial da aviação regional é enorme, mas esse mercado está muito aquém do que poderia ser no País.”

A expectativa é que grandes grupos nacionais e que já atuam no setor aéreo possam dar lances, como a CCR — hoje a maior concessionária em número de aeroportos do País — e a Socicam, conhecida pela sua atuação em terminais rodoviários, mas que já possui 14 aeroportos regionais sob sua gestão. O grupo deu um lance na 6ª rodada do governo federal em consórcio com o fundo de investimento XP Infra III, mas perdeu para a CCR.

Segundo fontes do mercado, a participação da Socicam no leilão paulista faria sentido principalmente porque o grupo poderia integrar todos os seus modais no estado.

Para tornar o leilão mais atrativo, Machado afirma que a modelagem permite ao concessionário acordar periodicamente com o poder concedente os investimentos a serem feitos de acordo com o crescimento da demanda de passageiros ao longo do contrato. Historicamente, leilões de aeroportos exigem aportes independentemente do resultado de tráfego.

“Vamos fazer um trabalho para acompanhar as concessões. Os concessionários terão que apresentar revisões de planos periodicamente para acertar os investimentos a serem feitos. Tivemos condições de aperfeiçoar o edital e torná-lo mais adequado à realidade”, diz o secretário.

Atrativos

O lote Sudeste é composto por 11 ativos, sendo Ribeirão Preto a joia da coroa, principalmente devido ao potencial trazido pelo agronegócio à região. Segundo Machado, outros terminais também são atrativos, cada um com sua particularidade. “A cidade de Guaratinguetá, por estar ao lado de Aparecida do Norte, deve ter apelo para o turismo religioso”, diz o secretário.

A proximidade da 7ª rodada federal, no entanto, pode ser um obstáculo para o apetite do investidor, em meio a maior crise da história do setor de aviação e à economia ainda combalida. “O mercado da aviação regional é muito pequeno no Brasil e, no passado, as companhias aéreas que investiram nisso tiveram prejuízo. A conta de investimento e retorno a ser feita neste leilão não é fácil”, diz Dantas.

Conforme o especialista, a intenção do governo paulista é justamente desenvolver esse mercado, mas o desafio será grande. Embora o agronegócio deva estimular os investimentos, ele aponta que o Estado tem uma questão cultural envolvendo as rodovias, consideradas as melhores do País. “As empresas de ônibus rodoviários do Estado são tradicionais e prestam serviços com muita competência. A disputa entre os modais pode ser um ponto de atenção para o apetite do investidor.”

O secretário paulista acredita, porém, que tanto companhias aéreas quanto novos  operadores de aeroportos concedidos pela União vão querer mais opções de integração. “Muitos aeroportos paulistas só operam, hoje, aviões de menor porte, como os ATRs, mas podemos passar a receber aeronaves da Airbus e da Boeing com as novas concessões, ampliando a oferta aos passageiros. A aviação regional se soma à federal”, avalia Machado.

Contato: juliana.estigarribia@estadao.com

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